quarta-feira, 27 de maio de 2020

Entomofagia e Antropoentomofagia

Entomofagia e Antropoentomofagia: o que é? 


Entomofagia é o hábito de comer insetos e outros invertebrados, como aranhas e escorpiões, tanto por animais quanto por humanos. Quando se restringe a humanos utilizamos o termo Antropoentomofagia.

     Todo mundo sabe ou já deve ter visto algum animal se alimentando de insetos, mas e no caso dos humanos, será que isso é comum? Embora aqui no Brasil isso não faça parte da nossa cultura, existem algumas regiões do país em que certas populações consomem insetos, mas em outros países, principalmente da África e Ásia, esse hábito é bem comum. E pode acreditar, algumas espécies de insetos são muito apreciadas nessas regiões! Mais de 1.780 espécies são utilizadas na alimentação humana, sendo as mais consumidas: besouro-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum Linnaeus, 1764), abelha (Apis mellifera Linnaeus, 1758), tanajura ou içá (Atta cephalotes Linnaeus, 1758), gafanhoto (Sphenarium purpurascens Charpentier, 1845), bicho da seda (Bombyx mori Linnaeus, 1758), louva-a-deus da Tailândia e o tenébrio (Tenebrio molitor Linnaeus, 1758).

Os insetos e suas propriedades nutricionais

     
     Os insetos possuem muitos nutrientes como ácidos graxos, ferro, fibras, fósforo, manganês, selênio e zinco e, principalmente, proteínas e aminoácidos sendo que algumas ordens de insetos até superam os valores nutricionais de um produto animal: a ordem Orthoptera, por exemplo, (grilos e gafanhotos) supera a quantidade de proteínas (67,47g a cada 100g) de peixes, carne bovina e ovos (81,11g, 54g, 46g - respectivamente - a cada 100g). A ordem Hemiptera possui mais aminoácidos (66mg a cada 100g) do que o ovo e carne bovina (54mg e 49mg - respectivamente - a cada 100g).

Consumo de insetos no Brasil e no mundo

     
     Existe uma grande barreira cultural que dificulta que o consumo de insetos seja uma prática considerada normal. Aqui no Brasil poucas regiões do país se consome insetos e o maior consumo está registrado no Norte e Nordeste do país. Os insetos mais consumidos são a tanajura ou içá, bicho-do-coco e saúva.

     Você pode até pensar que nunca comeu um inseto na sua vida. Mas e seu eu disser que você já comeu e nem percebeu? Pois é, alguns alimentos e cosméticos possuem um corante vermelho feito com a cochonilha (Dactylopius coccus Costa, 1835). Uma pessoa pode ingerir até meio quilo de insetos de forma involuntária durante uma vida! Além da cochonilha, a Anvisa permite uma certa quantidade de insetos nos alimentos industrializados.

     A China e a Tailândia são os países que mais se pratica a antropoentomofagia e onde também tem mais espécies de insetos comestíveis, esse hábito faz parte da cultura da população.

Danos ambientais: consumo de carne animal x consumo de insetos

     
     O consumo de insetos promove inúmeros benefícios, não só no quesito nutricional mas também em relação ao meio ambiente. A agropecuária é a atividade que mais causa danos ambientais no mundo: cerca de 40% da superfície da Terra é utilizado para a agricultura e 30% para o pasto.

     Entre os danos ambientais causados pela agropecuária estão:
  • Desmatamento: para a criação do gado é necessário desmatar grandes áreas;
  • Água: a agropecuária é a atividade que mais consome água no mundo, cerca de 90% do consumo mundial;
  • Emissão de GEE (gases do efeito estufa):  segundo a ONU, em relação a atividades antrópicas, a pecuária é responsável pela emissão de 14,5% de GEE e as atividades agrícolas por 30% do total de gases do efeito estufa no mundo;
  • Saúde pública: o consumo de carne aumenta significativamente as chances de adquirir uma zoonose e também é um dos principais causadores da resistência bacteriana;
  • Sofrimento animal: os animais destinados ao abate e até aqueles em que se consome derivados, possuem uma condição de vida péssima, são obrigados a ficarem em lugares minúsculos e sem poderem se movimentar, entre outros causadores da má qualidade de vida.
Agora em relação à criação de insetos, existem muito mais benefícios:
  • Conversão energética: os insetos possuem uma conversão energética mais eficiente, necessitando de 2kg de alimento para converter em 1kg de massa corporal. Já os bovinos precisam de 8kg de alimento para produzir 1kg de massa corporal;
  • Solo e água: para a criação de insetos, é necessária uma quantidade muito menor de água e solo em relação à criação de gado. O tenébrio, por exemplo, é muito mais resistente a seca do que o gado;
  • Emissão de GEE: os insetos emitem menos GEE em relação a pecuária atual. Os suínos por exemplo, produzem de 10 a 100 vezes mais gases do efeito estufa por quilograma de peso;
  • Saúde pública: os insetos apresentam um risco muito menor de transmissão de zoonose em relação à carne animal e não são utilizados hormônios ou antibióticos em sua criação, entre outros pontos positivos da antropoentomofagia.

E aí, você comeria um inseto assim? Esses são tenébrios (Tenebrio molitordesidratados prontos para o consumo humano, muito utilizados na culinária. Em 100g possui 23,2g de lipídeos, 4,7g de fibras e 58,8g de proteínas.

Foto: Bruna Gutierrez

O conteúdo desse texto foi retirado do meu TCC apresentado em banca em 2019.

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Referências:

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